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Imagens

03.08.13

No Bali, usam-se flores nos cabelos. Já tenho andado por essas bandas e vi sempre gente muito bonita. Como esta senhora da fotografia. Cresci e vivi em lugares onde a velhice não era - e não é - considerada como um estigma. Lembro-me que, uma das últimas vezes que fui a Maputo almoçámos, como fazíamos muitas vezes, no Costa do Sol, um restaurante onde o Tio Xico trabalhou toda a vida. O Tio Xico era um belo negro, nessa altura já muito velho, cabeça toda branca, olhos aguados e piscos, um sorriso firme. Não tinha deixado de trabalhar porque não quis e ninguém o punha na rua só por causa (do pormenor) da idade avançada. Ele gostava de ali estar e, por isso, ali estava. O Tio Xico agarrava numa bandeja - imaginem, com um prato com pães, ou com uma taça com camarões ou com uma cerveja daquelas boas, de Moçambique e lá ía ele, sala fora. Os pés não saíam do chão e demorava uns bons quinze minutos para atravessar o espaço até a uma mesa. Gostava de o olhar, de observar a dignidade e o aprumo do seu porte. Ninguém comentava ou fazia graças, toda a gente respeitava o Tio Xico que até tinha uns frascos de piripiri com a sua fotografia e o seu nome para vender. Um piripiri maravilhoso que nos fazia ir ao céu e voltar. O Tio Xico já morreu. Morreu a fazer o que gostava: com o seu traje impecável, de roda das mesas pejadas de bom marisco, entre os risos e a música, de frente para o mar.

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