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Toni Morrison - de seu verdadeiro nome Chloe Ardelia Wofford - é uma das minhas autoras de eleição, uma das vozes mais encantatórias e marcantes da Literatura. Nasceu a 18 de Fevereiro de 1931 e apetece-me falar dela porque é uma mulher que, com os seus 82 anos, continua bela, forte, incandescente. O seu livro mais recente chama-se "Home" (2012).

E aqui fica, um excerto do texto que escrevi, no jornal Público, dedicado a outro dos seus romances, "Love" (2003):

Nos Estados Unidos, depois de mais de cinquenta anos de lutas pelos direitos civis dos afro-americanos, o conceito de negritude ocupa agora, como nunca antes, um lugar primordial em todos os campos da actividade humana e Toni Morrison poderá bem estar para a Arte como o Presidente Obama está para a Política. Ela foi pioneira em muitas coisas, a primeira negra a ocupar uma cátedra numa Universidade da Ivy League, a primeira negra a ganhar o Prémio Nobel, uma espécie de Grande Deusa, de oráculo iluminado de uma Cultura profundamente enraizada no tecido social, cultural, moral e criativo da América. No entanto, foi a própria Morrison que afirmou uma vez que, por muito que gostasse das obras de Richard Wright, Ralph Ellison, e James Baldwin não partilhava com os escritores negros a tentação - que pareciam incapazes de contrariar - de olhar por cima do ombro e de explicarem “as coisas aos brancos”. Ela sempre achou desmoralizante que fosse necessário “explicar” o que quer que fosse da vida dos negros aos brancos ou retratar os “negros típicos”.

“Nunca pedi a Tolstói que escrevesse para mim, uma menina de cor nascida em Lorain, Ohio. Nunca exigi a Joyce que não mencionasse o seu catolicismo ou o universo de Dublin… Faulkner escreveu literatura regional e é lido em todo o mundo”, afirmou Morrison que, em “Playing in the Dark” (1992) juntou algumas das suas conferências sobre a imaginação literária na tradição dos brancos americanos, cujos temas - a inocência, o individualismo, a masculinidade, a liberdade - são directamente ditados pela “presença africana”, enquanto faz notar quanto do idioma falado nos Estados Unidos deve à cultura negra.

 A mulher que afirmou que Clinton fora o primeiro Presidente negro dos EUA - porque foi tratado como um “negro” até ao “impeachment” em 1998 e apresentava quase todas as características da comunidade africana, isto é um rapaz do Arkansas,  nascido pobre na classe média, criado mono parentalmente, tocador de saxofone e amante de “junk food” e que , no ano passado, apoiou Obama -  é, desde há muito, considerada como a “Voz” de uma já longa tradição literária que tem as suas raízes na tradição oral e nos cultos animistas trazidos de África, o que passa pela prática evangelista e consequente leitura e interpretação da Bíblia e teve uma profunda implantação em autores, principalmente sulistas, como Eudora Welty e William Faulkner, fortemente influenciado pelas histórias do Mississippi, com o seu estranho sentido de humor e a trágica posição em que se encontravam negros e brancos. Mas quando, em 1955, Faulkner prometia disparar contra os negros nas ruas, Morrison terminava a sua tese de doutoramento em Cornell, sobre ele e Virginia Woolf, não deixando que a cor branca do escritor sulista a impedisse de reconhecer o seu valor como escritor.

 

 

 

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Acabei de entregar a recensão para o Ípsilon de "Velhos Diabos", do autor britânico Kingsley Amis - sim, o pai do "outro Amis" -  ele mesmo um (já morto) velho diabo. É um diabo de um romance onde diabos não românticos, fazem diabruras sem parar. Bebem muito, tentam recuperar as sensações de quando eram mais novos, procuram sem resultados visíveis reavivar a libido ( num tempo distante do século passado, mais ou menos uma década antes da comercialização da famosa pílula azul!), atraiçoam uma e outra vez depois de muitas traições, não amam porque já se esqueceram e travam uma feroz batalha entre eles, fingindo que se estão a divertir. É um livro horrivelmente cómico e implacavelmente triste.

Aqui fica um parágrafo:

"Fossem quais fossem as particularidades do seu rosto, ia ter de fazer a barba. Detestava toda aquela tramóia - dentes, barba, cabelo, roupa -  tanto que às vezes sentia que estava a aproximar-se do ponto em que poria tudo isso de parte para passar a andar só de pijama e de roupão durante todo o dia."

Quem rumina assim é Malcolm. E só não passa mesmo a andar sempre de pijama e com a barba por fazer porque Gwen, a mulher, não o deixa - a(h, as mulheres insuportáveis, como livrarmo-nos delas depois de tanto as perseguirmos?);   e porque tem de ir até ao pub, o Bible - neste caso não haveria grande inconveniente porque só lá estarão os velhos (antiquíssimos) amigos. O problema é que Alun chegou. E Alun quer farra, quer mais copos, mais mulheres, mais divertimento. E quer os velhos diabos com ele… 

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Nós, os mais velhos, bombardeados todos os dias  com notícias funestas, podemos recordar Epicuro de Samos, (341 a.C. –270 a.C.) o filósofo da Grécia Antiga que mostrou (e praticou) a felicidade.

Para Epicuro só importa o tempo presente - é necessário vivê-lo intensamente.

A doutrina de Epicuro é terapêutica (pharmakon) e parte de quatro premissas( tetrapharmakon):

1ª - Não temer os deuses - eles não se preocupam com os homens.

2ª - Não temer a morte – a morte é a ausência de sensações e, por isso, só é dolorosa se a trouxermos para o nosso presente.

3ª - Evitar a dor, combatendo-a com a recordação dos momentos felizes.

4ª - A felicidade é possível. Como? Procurando os prazeres que são fáceis de satisfazer e não "perturbam".

É claro que tudo isto é mais fácil de dizer do que fazer. Mas, entretanto… vamos pensando; e tentando.

Nota: por acaso gosto de "prazeres perturbadores" mas lá vou lendo a "Carta sobre a felicidade (a Meneceu)" e fazendo um aggiornamento das ideias do velhote.  

  

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Hoje, coloco a seguinte questão, ilustrada com um bem-humorado "cartoon", surripiado do New Yorker: como encaramos nós, homens e mulheres, as transformações constantes do nosso corpo? Como as vivemos? Haverá, ainda, uma diferença entre (alguns) homens e (algumas) mulheres, no que diz respeito à forma de experimentar esta mutação? (Os não humanos não têm este problema). O que causa as ansiedades e até depressões, quando nos confrontamos com o envelhecimento?

Nota: quero aqui deixar bem claro que, apesar de nunca ter feito qualquer intervenção cirúrgica de cariz estético – nem usado botox ou similares – não sou de todo moralista em relação a essas práticas. Cada pessoa sabe o que é melhor para ela (ele) e não sou favorável a qualquer fundamentalismo/extremismo. Uso cremes, gosto de ir ao cabeleireiro e a Spas, de arranjar os pés e as mãos e de tudo o que tenha a ver com massagens e outras actividades que não exijam de mim, nem muito esforço nem bisturis e /ou químicos. Mas eu tenho a sorte de ter saúde (por enquanto) e de não me ralar nada com as marcas do tempo. Por enquanto, também…

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Se fizermos as contas, chegamos à conclusão de que os nossos bem amados filósofos da Antiguidade Clássica – o que seria de nós sem eles? – atingiram idades bem avançadas, tiveram tempo para pensar, viver e escrever. Vejam aqui um gráfico interessante que mostra como estes senhores, há 2000 – 3000 anos, se aguentaram muito bem, numa época em que supomos que a esperança de vida deveria ser curta. E se não fossem alguns percalços, como a indigesta ingestão de cicuta, até Sócrates poderia ter vivido mais tempo, era um velhote bem rijo. Nada mal, não acham?

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Esta, sou eu. Sem pinturas nem disfarces. Sem photoshop nem retoques. Estou velha. Uso óculos, o pescoço enruga-se maliciosamente, o formato do rosto altera-se, o queixo está uma lástima, às vezes acordo com uma mão dormente e já não consigo fazer o pino. Quando pratico Ioga - e não só - as articulações rangem e, por vezes, vejo-me aflita para voltar a uma posição "normal". Continuo a gostar de tudo o que me tem alimentado ao longo da vida: os afectos, as artes, a literatura, as viagens, as mudanças (para melhor).

Só me vai faltando a paciência, cada vez mais. Porque é difícil classificar o grau de estupidez de governantes que decidem – por incompetência, preguiça e outras incapacidades – cortar, diminuir os vencimentos de reformados e pensionistas. São obviamente medidas que só trazem desvantagens a um País, a um Estado. É verdade que o número de pessoas de idade aumenta, o que não é de admirar. Cada vez existem mais meios para prolongar a vida – as farmacêuticas, os construtores e inventores de material hospitalar agradecem e os milhões de milhões que são destinados à investigação comprovam, sem sombra de dúvida, que os seres humanos escolhem, inteligentemente, fazer mais e melhor por eles próprios e pelos seus semelhantes, para que gozem uma existência longa, de qualidade e feliz, nesta Terra. Nos países ditos "civilizados" a idade, para além de um repositório de experiência e de sabedoria, é uma mais valia e gera riqueza. Existem inúmeros sectores económicos que podem beneficiar exponencialmente com os reformados que possuem uma certa qualidade de vida: têm mais tempo para gastar, para fazer uma infinidade de coisas que não puderam fazer enquanto cumpriam horários e se ocupavam da sua vida profissional. Há tempo para viajar, para fazer turismo, para ensinar os outros, para fazer voluntariado, para ajudar quem precisa, para frequentar inúmeros cursos e actividades, para gastar dinheiro sem culpa - mais ou menos, de acordo com as possibilidades - enfim, para tirar partido de um sem-número de oportunidades que lhes passaram ao lado, enquanto jovens e de meia-idade. Se as pessoas trabalharam e descontaram para o Estado e se preparam para a segunda parte activa das suas vidas, qual a intenção de lhes colocar barreiras, de elevar muros cinzentos à sua frente? Quem ganha com isso? Ninguém. A quem interessa um País, uma comunidade, em que as pessoas de idade são marginalizadas e maltratadas? Um País em que os mais velhos vivem da caridadezinha ou têm de se privar de uma quantidade de coisas porque aquilo com que contavam lhes foi retirado à má fila?

Tenho especial horror e desprezo por quem trata as pessoas de mais idade como se fossem uns trastes, uns empecilhos, um peso.    Começamos a envelhecer no dia em que nascemos. Este nosso "invólucro mortal" como lhe chamou o grande senhor Shakespeare está em mutação desde sempre e principalmente quando soltamos o primeiro grito, quando inspiramos, pela primeira vez. Enquanto andamos por este mundo, a matéria de que somos feitas(os) move-se e remove-se em constante turbulência. No nosso corpo tudo está sempre a mexer-se a dividir-se, a multiplicar-se, a somar e a subtrair. Há torrentes, enxurradas, caudais, lagos e mares, montanhas e vales, tempestades, tsunamis, avalanches, florescimentos e aniquilações. O processo acumulativo de alterações de estruturas moleculares e celulares não pára. Por isso, tenham muito cuidado connosco. Andamos nisto há muito. Somos fortes e damos luta. Aprendemos com o tempo. Não nos tramem porque ganham mais connosco do que sem nós. Tenho dito!

Nota: tenho particular aversão por quem utiliza, com as pessoas de idade, inúmeros diminutivos, do género: coitadinho do velhinho que vai comer uma sopinha e dormir uma sestinha e antes vai fazer um xixizinho por causa da bexiguinha, etc, etc, etc…!!!!

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Muita gente a conhece mas é altura de a mencionar, de novo. 

 

A modelo inglesa nunca fez uma plástica nem usou botox -" são venenos, afirma, e um gasto de dinheiro inútil". A sua boa forma deve-se, segundo ela ao Ioga, a uma boa alimentação e a bons genes. A longa cabeleira rebelde prateada é a sua imagem de marca. "O meu cabelo começou a embranquecer quando eu tinha 40 e tal anos; não estive para o pintar e deixei-o crescer", esclarece, ao mesmo tempo que diz, bem humorada, que prefere usar roupa que lhe tape os braços - "fico melhor deitada, vêm-se menos as peles". No entanto, não hesitou em usar o corpete de Jean Paul Gaultier que Madona usou no Blond Ambition Tour em 1990, para um evento filantrópico. 

 

 

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O melhor marido que uma mulher pode encontrar é um arqueólogo. Quanto mais velha ela é, mais interessante se torna para ele.

Agatha Christie

 

Agatha Christie foi uma das mais extravagantes e talentosas autoras inglesas. Deixou a sua marca profunda num género literário - o chamado "policial" - tal como, na América, aconteceu com Dashiel Hammet, por exemplo. Agatha Mary Clarissa Christie foi uma jovem impulsiva, com um casamento atribulado com o Archibald Christie, piloto do Corpo Real de Aviadores que, mais tarde,  só lhe trouxe desgostos. A escrita foi a sua grande companheira, a actividade que lhe deu alegria, fama e proveito. O seu gosto pelo crime, pelas charadas, pelos complexos "puzzles", pela dedução inteligente -  uma herança vitoriana que teve como expoente máximo Conan Doyle e , que na sua obra se concretizou na figura de Hercule Poirot . Agatha viajou por todo o mundo e tinha especial interesse pelo Médio Oriente onde conheceu o segundo marido, Max Mallowan. A citação aqui publicada - a escritora tinha um fantástico sentido de humor - refere-se ao facto de Max ter sido 14 anos mais novo. Agatha Christie viveu os seus 86 anos muito bem vividos.

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Imagens

03.08.13

No Bali, usam-se flores nos cabelos. Já tenho andado por essas bandas e vi sempre gente muito bonita. Como esta senhora da fotografia. Cresci e vivi em lugares onde a velhice não era - e não é - considerada como um estigma. Lembro-me que, uma das últimas vezes que fui a Maputo almoçámos, como fazíamos muitas vezes, no Costa do Sol, um restaurante onde o Tio Xico trabalhou toda a vida. O Tio Xico era um belo negro, nessa altura já muito velho, cabeça toda branca, olhos aguados e piscos, um sorriso firme. Não tinha deixado de trabalhar porque não quis e ninguém o punha na rua só por causa (do pormenor) da idade avançada. Ele gostava de ali estar e, por isso, ali estava. O Tio Xico agarrava numa bandeja - imaginem, com um prato com pães, ou com uma taça com camarões ou com uma cerveja daquelas boas, de Moçambique e lá ía ele, sala fora. Os pés não saíam do chão e demorava uns bons quinze minutos para atravessar o espaço até a uma mesa. Gostava de o olhar, de observar a dignidade e o aprumo do seu porte. Ninguém comentava ou fazia graças, toda a gente respeitava o Tio Xico que até tinha uns frascos de piripiri com a sua fotografia e o seu nome para vender. Um piripiri maravilhoso que nos fazia ir ao céu e voltar. O Tio Xico já morreu. Morreu a fazer o que gostava: com o seu traje impecável, de roda das mesas pejadas de bom marisco, entre os risos e a música, de frente para o mar.

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Para desanimar

03.08.13

 "Quando fores velho, grisalho e cheio de sono" - o poema completo de Yeats, mais abaixo...

 

Umas palavras sobre William Butler Yeats, 13 Junho 1865 – 28 Janeiro 1939,  nacionalista irlandês, Nobel da Literatura, fascistóide mas bom a alinhavar palavras.

Uns dias depois da sua morte, Auden escreveu, na Partisan Review:

"O morto tinha uma mentalidade feudal. Estava sempre pronto para admirar os pobres enquanto estes permanecessem pobres e humildes, aceitando sem protestar o fardo do pequeno bando de patrões literários os quais, sem o seu trabalho não durariam uns escassos cinco minutos."

No entanto…

Em 1937, Pablo Neruda organizou uma conferência de escritores em Madrid, quando a cidade estava cercada por Franco. As inúmeras respostas não se fizeram esperar, escreveu Neruda no seu Diário, "uma delas era de Yeats. Estava demasiado velho para se deslocar a uma cidade sob bombardeamentos constantes mas apoiava a iniciativa". 

O William Butler Yeats - grande poeta e rezingão com mau feitio  - escreveu assim sobre a velhice

 

 

"When You Are Old"

 

WHEN you are old and gray and full of sleep 
  And nodding by the fire, take down this book, 
  And slowly read, and dream of the soft look 
Your eyes had once, and of their shadows deep; 
 
How many loved your moments of glad grace,         5
  And loved your beauty with love false or true; 
  But one man loved the pilgrim soul in you, 
And loved the sorrows of your changing face. 
 
And bending down beside the glowing bars, 
  Murmur, a little sadly, how love fled  10
  And paced upon the mountains overhead, 
And hid his face amid a crowd of stars.

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