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As Idades Maiores da Mulher... e do Homem. Para acabar de vez com a displicência em relação à gloriosa Senescência.
Sempre gostei de Margaret Atwood, a romancista, poeta, crítica literária, ensaísta e activista ambiental canadiana que ganhou enorme notoriedade com "Diário de Uma Serva" (1985), recentemente reeditado em português, com o qual ganhou o primeiro de muitos prémios. ("O Assassino Cego", um dos meus livros preferidos ganhou o Booker, em 2000 e espero por "MaddAddam" (2013) em português, o último romance da trilogia "Oryx and Crake".
A mulher que afirma convictamente que "a estupidez está ao mesmo nível do Mal se considerarmos os respectivos resultados" é autora de duas dezenas de livros de poesia, de livros para crianças, de librettos para óperas (rock), de guiões para televisão. É ainda, uma conferencista memorável com intervenções contundentes no âmbito de vários assuntos - o ambiente, as dívidas dos países soberanos, a religião, a ética, a escrita, a literatura…
Aos 74 anos, é assim que reflecte, no sentido literal, sobre a idade.
Nota: Primeiro no original, o poema está, de seguida, em português, canhestramente traduzido por mim.
Daguerreotype Taken in Old Age
Margaret Atwood
I know I change
have changed
but whose is this vapid face
pitted and vast, rotund
suspended in empty paper
as though in a telescope
the granular moon
I rise from my chair
pulling against gravity
I turn away
and go out into the garden
I revolve among the vegetables,
my head ponderous
reflecting the sun
in shadows from the pocked ravines
cut in my cheeks, my eye-
sockets 2 craters
among the paths
I orbit
the apple trees
white white spinning
stars around me
I am being
eaten away by light
Daguerreótipo em idade antiga
Sei das mudanças, sim
Sei que mudei
A quem pertence este rosto inexpressivo
Tristonho e largo, redondo
Suspenso no papel
como se avistado num telescópio
uma lua granulosa
Levanto-me da cadeira
Repudio a gravidade
Viro-me
e saio para o jardim
Revolvo os vegetais
A minha cabeça pesada
A reflectir o sol
Sombras nas cavadas ravinas
Abertas nas minhas faces, nas
Duas crateras dos meus olhos
Entre os caminhos
Traço a minha órbita
As macieiras brancas
Brancas estrelas
Revolteando em meu redor
A ser devorada
Pela luz.